1 de janeiro de 2009
ALEISA FISHMAN
Em 2006, ainda adolescente, Harald Edinger deixou sua casa na Áustria para trabalhar no Museu Estadunidense Memorial do Holocausto. Durante os 14 meses que passou em Washington, D.C., Edinger aprendeu lições valiosas sobre o passado, o futuro, e sobre o papel da sua geração [para ajudar a evitar conflitos].
Bem-vindos à série de podcasts "Vozes sobre o Anti-semitismo", uma iniciativa do Museu Estadunidense Memorial do Holocausto, aberta gratuitamente ao público. Este programa é possível graças ao generoso apoio da “Oliver and Elizabeth Stanton Foundation”. Meu nome é Alisa Fishman, e sou a apresentadora da série. A cada duas semanas, convidamos um participante para refletir conosco sobre as diversas maneiras como o anti-semitismo e o ódio afetam o mundo de hoje. Nosso convidado de hoje foi Harald Edinger.
HARALD EDINGER:
O termo austríaco "Gedenkdienst" pode ser traduzido como "Serviço de Comemoração do Holocausto". Ele oferece aos jovens austríacos a oportunidade de realizar um serviço militar alternativo, em instituições dedicadas à memória e ao conhecimento do Holocausto, em vários locais ao redor do mundo. Assim, todos os anos, a Organização “Gedenkdienst” envia vinte jovens austríacos para o exterior, e eu me sinto com muita sorte por haver sido um dos selecionados. Iniciei meu trabalho no Museu do Holocausto quando tinha apenas 18 anos, e lá fiquei por pouco mais de um ano, tempo que provavelmente não foi o suficiente. Lembro-me de que queria permanecer em Washington D.C.[para continuar a trabalhar].
Uma das partes mais interessantes do meu trabalho, era a de estabelecer e manter contato com sobreviventes do Holocausto, principalmente sobreviventes austríacos que viviam na região de Washington. Fico feliz em hoje poder dizer que alguns dos integrantes daquele grupo tornaram-se grandes amigos meus. Foi muito gratificante e enriquecedor poder conversar com pessoas que voltaram à Áustria após tudo o que aconteceu com elas. Porque eu, se enfrentasse as mesmas dificuldades, se amanhã passasse a ser perseguido, não sei se algum dia iria querer voltar, ou se algum dia iria querer conversar com um alemão ou com um austríaco novamente. Muitos dos sobreviventes que conheci continuam tendo uma visão muito otimista do mundo e da humanidade. Isso é simplesmente admirável! Fiquei muito impressionado com a atitude deles.
Mesmo que a minha geração não tenha passado pelo Holocausto, é essencial termos um bom entendimento da história, afinal ela é a base de tudo o que está acontecendo em nosso país hoje. Na Áustria atual, raramente se encontra uma demonstração explícita de anti-semitismo. Talvez seja pelo fato de que quase não existam mais judeus vivendo na Áustria. Esta perda do patrimônio judaico na Áustria é muito triste, dada a longa e rica história judaica do país – principalmente em Viena. Como eu disse, o anti-semitismo, em seu sentido original, é difícil de ser encontrado aqui na Áustria hoje. Entretanto, o que se percebe, é [que existe] um tipo de ignorância ou de ressentimento quanto à realização de mais comemorações e de [obrigação de mais estudos sobre o] Holocausto. Isto acontece porque algumas pessoas acham que a culpa deste país já foi redimida, que a dívida deste país já foi quitada. Mas, felizmente, também há muita gente que entende que as coisas não funcionam assim, e que nenhuma indenização poderá trazer de volta o que foi perdido. Mas, em nome daqueles que viveram aqui, que provavelmente perderam tudo o que tinham, suas famílias, seus lares e, quem sabe, suas próprias vidas, é preciso que sejam lembrados, mesmo que não seja muito agradável pensar que os austríacos também cometeram aqueles crimes horríveis. E isso é provavelmente uma das coisas mais importantes... bem, você não deve fazer a menor ideia do que seja [este sentimento]. Mas é importante tentar entender os fatores que levaram a todos aqueles [austríacos a cometerem] crimes horríveis, para poder ensinar e criar consciência entre os demais seres humanos. Acho que isso é o que se pode chamar de memória cultural responsável. E isto está nas mãos da nossa geração.