20 de novembro de 2008
TAD STAHNKE:
Os crimes violentos motivados pelo ódio [discriminação] são problemas que acontecem em todos os países do mundo. Não é uma nódoa moral que mancha um país em particular pelo fato de lá eles ocorrerem. O valor real de uma sociedade é demonstrado através da sua resposta a tais atos.
ALEISA FISHMAN:
Tad Stahnke acredita que a discriminação pode existir em qualquer sociedade e pode afetar a qualquer pessoa. Para ele, os preconceitos são pervasivos e estão em constante mutação. É responsabilidade e interesse mútuo de todos os membros da sociedade o combate à violência e ao preconceito.
Através do seu trabalho com a organização não-governamental “Human Rights First”, e de suas experiências pessoais, Stahnke descobriu que, provavelmente, o primeiro passo [na luta contra o ódio] seja a empatia.
Bem-vindo a "Vozes sobre o Anti-semitismo", uma série de podcasts do Museu Estadunidense Memorial do Holocausto, a qual foi foi possível graças ao generoso apoio da “Oliver and Elizabeth Stanton Foundation”. Meu nome é Aleisa Fishman, e sou a apresentadora da série. A cada duas semanas, convidamos um participante para refletir sobre as diversas maneiras como o anti-semitismo e o ódio, afetam o mundo de hoje. Com vocês, diretamente de Washington, D.C., Tad Stahnke.
TRANSCRIÇÃO:
TAD STAHNKE:
Eu não fazia ideia de que um dia trabalharia com algo assim. Na verdade, eu jamais sonhei que um dia estaria fazendo algo assim. Mas sou membro de um grupo minoritário e sei como é crescer como parte dele nos Estados Unidos. Então, no parquinho infantil, eu fazia parte daqueles que eram chamados de "kike" [termo ingles ofensivo para se referir a um judeu] e nunca aceitei isso muito bem. Mas, já adulto, tive uma experiência interessante. Como parte da minha primeira viagem internacional, passei por Londres. Minha barba era comprida e, como eu havia passado um bom tempo na Ásia, eu estava muito bronzeado. Um dia eu estava caminhando pelas ruas daquela cidade e por várias vezes fui abordado e chamado de "Paki" [termo inglês ofensivo para se referir a alguém do Paquistão ou de origem paquistanêsa]. Acho que pensaram que eu era paquistanês.
Aquilo gerou em mim solidariedade para com as pessoas que pudessem ser atacadas daquela maneira como eu fui, simplesmente por causa da minha aparência e pelo que achavam que eu era. Quando gritam com você e mandam você ir embora, você começa a pensar na posição em que vivem outros [semelhantes], dia após dia sujeitos a tal forma de abuso e a tal tipo de ódio incandescente. Você fica com vontade de lutar contra isto. Então, através do meu treinamento como advogado, comecei a trabalhar com direitos humanos, mais especificamente com questões de liberdade religiosa, lutando para proteger a liberdade religiosa e combatendo os crimes violentos de ódio.
Desde 2002, a [ONG] “Human Rights First” trabalha para combater crimes de ódio, a violência anti-semita, o racismo, a xenophobia, o ódio contra os muçulmanos, e a homofobia nos 56 países da América do Norte e dos países europeus membros da “Organização para a Segurança e Cooperação na Europa” [a maior organização mundial para segurança regional].
Uma das maneiras mais importantes para combater este tipo de violência, para uma organização como a nossa, é chamar a atenção para tais fatos onde quer que eles ocorram, e buscar contínuamente chamar a atenção [do mundo] quando os governos responsáveis não tomarem as providências cabíveis para responder a tais incidentes, ou simplesmente não reagirem por considerarem o problema uma questão de política [pública, quando o governo compactua com a discriminação]. Sabe, é verdade que, nos escalões políticos mais elevados, este tipo de assunto não é discutido livremente. Mas nós tentamos mostrar que é do interesse dos próprios países tomarem medidas duras contra tais tipos de tensão e atos de violência.
Cada indivíduo tem um papel importante a cumprir. O trabalho de cooperação inter-racial e inter-religiosa pode demonstrar que, do ponto de vista da comunidade, não existirá qualquer tolerância a tais tipos de incidente, e que eles serão devidamente punidos. [Vale lembrar que] os casos que ocorrem no âmbito local têm repercussões nacionais e internacionais. Existe uma enormidade de tipos de preconceitos, e qualquer um de nós pode ser o alvo de um deles. Não existe discriminação apenas contra os judeus, não só contra os muçulmanos, e não só contra afro-descendentes. Ela existe também contra os gays e as lésbicas, contra os hispânicos e outros imigrantes, e contra pessoas consideradas estrangeiras. Isto afeta a vida de muita gente, e quanto mais as pessoas forem tomando consciência sobre [a seriedade do problema], mais elas exigirão uma reação adequada [por parte das autoridades].