12 de fevereiro de 2009
EDWARD WESTERMANN:
Alguém que está fazendo uma patrulha no Iraque diariamente vê-se forçado a tomar decisões, e tais decisões tem de ser fundamentadas no que a pessoa acredite ser legal e moral, de tal modo que a camaradagem e a união do grupo não prevaleçam sobre suas responsabilidades éticas e morais.
ALEISA FISHMAN:
Como Comandante do centro de Treinamento Básico da Base da Força Aérea de Lackland, no Texas, o coronel Edward Westermann acredita que é importante preparar seus cadetes para confrontarem situações moralmente ambíguas. O próprio Westermann tirou muitas lições para sua própria vida no serviço militar, a partir de seus estudos sobre o Holocausto. Nos seminários ministrados por Westermann sobre o Holocausto, ele conclama seus alunos a pensarem com muito cuidado sobre as responsabilidades [militares e morais] dos postos que ocupam.
Bem-vindo a "Vozes sobre o Anti-semitismo", uma série de podcasts do Museu Estadunidense Memorial do Holocausto, a qual foi possível graças ao generoso apoio da “Oliver and Elizabeth Stanton Foundation”. Meu nome é Aleisa Fishman, e sou a apresentadora da série. A cada duas semanas, convidamos um participante para refletir sobre as diversas maneiras como o anti-semitismo e o ódio afetam o mundo nos dias de hoje. Com vocês, diretamente de San Antonio, Texas, o coronel Edward Westerman.
EDWARD WESTERMANN:
Comecei a me interessar pelo estudo do Holocausto depois que saí da Alemanha, após ter efetuado uma série de vôos [conjuntos] com a Força Aérea Alemã. Posteriormente, fui para a Academia da Força Aérea [norte-americana] para ministrar um curso sobre o Holocausto, porque quando vestimos um uniforme [militar] assumimos um compromisso, uma relação de confiança e uma responsabilidade especial no sentido de proteger nossa nação e nossa população. O caso do Holocausto nos mostra que quem usa este tipo de uniforme – no caso em questão, o exército alemão – tem este mesmo objetivo. No entanto, [no caso alemão] este objetivo foi de algum modo corrompido. A meu ver, esta é uma lição essencial para os profissionais militares, uma lição sobre o que pode acontecer quando se inicia aquela trajetória negativa.
Um dos mecanismos que utilizamos em aula é o de escrever ensaios onde se dramatizam diferentes papéis. Por exemplo, um dos exercícios de interpretação de papéis pedia aos alunos que escrevessem uma redação, sob a perspectiva de um policial alemão, servindo na Polônia [ocupada pelos nazistas], e que recebe ordens para se dirigir a uma aldeia local, sabendo que as ações a serem realizadas naquele local consistirão basicamente em assassinato em massa. A tarefa que dei aos alunos foi a de escrever sobre suas opções e sobre como eles lidariam com elas [com as opções escolhidas]. O objetivo deste tipo de aula, é que os alunos saibam que o estudo do Holocausto oferece um exemplo que permite a eles traçarem paralelos com os ambientes onde estão servindo (no Afeganistão, no Iraque, ou em qualquer outro lugar do mundo), onde temos militares envolvidos em situações que nem sempre são brancas e pretas.
Temos um processo, cada organização tem um processo próprio de socialização de seus membros – seja a IBM, seja o serviço militar. O que é importante para mim, é o entendimento de que tais processos podem ser muito positivos para a criação de uma identidade e um objetivo comuns. No entanto, o estudo do Holocausto nos mostra que estes mesmos processos podem ser distorcidos e usados para modificar uma organização e também para levá-la em uma direção diferente daquela para a qual foi criada. As forças armadas norte-americanas, se falarmos de My Lai [massacre ocorrido durante a Guerra do Vietnã], dos casos em que pessoas preferiram priorizar as relações de camaradagem do grupo em detrimento de suas responsabilidades éticas e morais – aquelas decisões foram tomadas de forma precipitada. Mas uma análise do Holocausto leva as pessoas a pensarem sobre o que farão caso se deparem com uma situação daquele tipo, seja em uma rua de Bagdá ou de Cabul. Se, ao deparar-se pela primeira vez com um acontecimento assim, se você parar para se perguntar pela primeira vez: "Quais são minhas responsabilidades éticas e morais em situações moralmente ambíguas às quais preciso reagir?", a pergunta já estará sendo feita tarde demais.
Este é um assunto muito difícil de ensinar, e é um caso em que exigimos uma capacidade de julgamento moral muito elevada por parte das pessoas. Mas, na verdade, como entidade militar, damos muita responsabilidade a jovens, homens e mulheres, e eles tem que saber que temos expectativas bastante altas quanto à sua capacidade para lidar com tais tipos de situação.
O fato de eu ser um católico e analisar o Holocausto também é algo importante, pois esta questão vai bem além de uma crença religiosa específica. Certamente, o Holocausto afeta os membros da religião judaica de uma maneira extremamente real e pessoal. Entetanto, acredito que o Holocausto, o que ele nos mostra, também vai além de uma crença, pois, de uma forma ou de outra, todos nós estivemos naquelas rampas de Auschwitz [em sentido figurado]. Meu estudo sobre o Holocausto revela a maneira como eu vejo as situações ao meu redor, e a maneira como interpreto estas situações. Assim, acredito que neste sentido, isto [o estudo do Holocausto por militares] seja válido.