5 de janeiro de 2012
VIDAL SASSOON:
Tive uma vida extraordinária. Grande parte dela foi em meio à política e no mundo da moda, experiências conjuntas que não acontecem com muita frequência para a maioria das pessoas.
ALEISA FISHMAN:
Vidal Sassoon redefiniu a arquitetura do cabelo feminino, mas sua ''vida extraordinária'' se estende para muito além desse mundo. Denominado como “o guerreiro-cabeleireiro anti-fascista" pelo jornal britânico The Telegraph, Sassoon foi o membro mais jovem de uma organização de resistência, formada por veteranos judeus, lutando contra o anti-semitismo e o fascismo na Londres pós-guerra. Em 1948 , ele uniu-se à Haganah, [OBS: organização judaica no Mandato Britânico que lutava em prol do estabelecimento de um estado judeu] a qual, após a criação do estado israelita, tornar-se-ia Forças de Defesa de Israel, e lutou nas guerras dos países árabes contra os colonos judeus. Em 1982, ele criou o “Centro Internacional para o Estudo do Anti-Semitismo Vidal Sassoon”. Embora Vidal Sassoon não mais exerça a atividade de cortar cabelos (ele brinca que ninguém quer um cabeleireiro de 84 anos de idade), ele mantém um grande orgulho sobre sua identidade judaica, um forte senso de ativismo político e de vigilância contra o anti-semitismo.
ALEISA FISHMAN:
Bem-vindo a Vozes Sobre o Anti-Semitismo, uma série de podcasts do Museu Estadunidense Memorial do Holocausto que foi possível graças ao generoso apoio da “Oliver and Elizabeth Stanton Foundation”. Meu nome é Aleisa Fishman. Todos os mêses, convidamos um participante para refletir sobre as diversas maneiras como o anti-semitismo e o ódio afetam o mundo nos dias de hoje. Falando de sua casa em Los Angeles, apresentamos hoje Vidal Sassoon.
VIDAL SASSOON:
Nasci em Shepherd's Bush, West London, em 1928. O período da minha infância foi muito interessante, porque embora a Grã-Bretanha nunca houvesse sido fascista ou comunista, o anti-semitismo era absolutamente geral. Quero dizer, era muito comum que outro garoto xingasse você de "judeu porco" sem que houvesse qualquer consequência. Embora a Inglaterra fosse um bom lugar para se viver, especialmente na época de Churchill [OBS: Primeiro-Ministro britânico durante a Guerra] e devido à luta contra os nazistas, havia sempre aquele sentimento de que os judeus eram cidadãos de segunda-classe.
Mesmo hoje em dia, você pensa: "Como pode uma nação [Alemanha], que tem uma das mais... que teve... a base cultural mais forte para o Ocidente, transformar-se no que se tornou e ser tão desumana quanto foi?”. Acho que não precisa muito [para isto tornar a acontecer]. Só precisa aparecer novo um líder [anti-semita] carismático, alguém que as pessoas vão ouvir e depois dizer: "Ah, ele tem razão ". Mais adiante, elas o ouvirão outra vez e dirão: "Hum, acho que ele estão certo sobre este ponto em questão". Então, elas continuarão a escutá-lo até que, de repente, elas se tornaram nazistas [sem perceber o processo].
É claro que existiam alemães com senso de civilização, porque é isto o que é [a paz], um sentido de civilização. Mas, a maior parte dos alemães seguiu Hitler. Não no início, inicialmente ele obteve apenas 30% dos votos, ou cerca de 33% dos votos. Obviamente, havia muitos alemães que sentiam-se envergonhados de seu país, e assim se sentiram por muito, muito tempo, e possivelmente, hoje ainda o sintam. A Alemanha tem hoje as leis mais severas do mundo contra o anti-semitismo, contra o racismo, e é um país com visão de futuro porque percebeu que o nacionalismo [extremado], uma vez nascido, é algo muito difícil de apagar.